sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O ladrão incompetente.



Fui batizada no quesito assalto. Não. Eu não virei assaltante. Eu é que fui assaltada, mesmo.

Então eu tava voltando da casa da minha amiga Samantha, indo pra casa a pé porque, ora, dessa vez eu estava realmente sem dinheiro na bolsa pra pegar o ônibus. Ainda bem.

Daí que eu vou atravessando a BR, muito tranquilamente e quando eu chego na entrada do Bela Vista (meu bairro), um culumim de mais ou menos 16, 17 anos vem em minha direção, numa bicicleta daquelas baixinhas, todo banhadinho, penteado, perfumado, com roupa limpa dizendo o seguinte:

- Eu só quero o celular, só o celular.

Imediatamente eu peguei o celular e entreguei pra ele, pensando que eu estava liberada já que ele tava totalmente "eu só quero o celular".

Só que a pessoa devia ser bipolar, né? Porque mudou de ideia logo depois.

Ele: - Cadê o dinheiro?

Eu: - Não tenho dinheiro. Já prestou atenção no mundo que nós vivemos hoje? É um perigo andar com dinheiro. Alôôu!! A gente totalmente pode ser assaltada por ai hoje em dia! (Mentira. Eu não falei isso. Mas eu pensei.)

Então o que eu respondi mesmo foi:

- Não tenho dinheiro.

O que ele meio que não acreditou.

Ele: - Umbora, cadê o dinheiro?! Eu tô armado! Eu tô armado!

Eu: - Não tá coisa nenhuma! Toma spray de pimenta nessa tua ventona aí!! (Mentira. Eu não disse isso. Nem tinha spray de pimenta. Mas eu bem que podia ter um, ora.)

O que eu fiz mesmo foi abrir a minha bolsa e repetir:

- Eu não tenho dinheiro.

E me senti bastante ofendida porque ele... bem, praticamente me chamou de mentirosa, se vocês querem saber. Porque continuou a me pedir dinheiro, mesmo eu dizendo que não tinha. E onde é que esse mundo vai parar, meu Deus, se as pessoas não acreditam mais umas nas outras...? Eu meio que acreditei nele quando ele disse que tinha uma arma, mesmo eu não vendo arma nenhuma. Poxa! Eu dei a ele um voto de confiança! E ele deveria ser educado e retribuir também. Tipo, se eu disse que não tinha dinheiro, ele deveria acreditar e ir embora com aquela cara feia dele e agradecer que eu dei meu celular pra ele de presente de Natal.

Ora, eu fui até bastante boazinha e uma vítima muito fácil de se lidar. Um ladrão colocou um revólver bem de verdade na cara da minha prima Dainna e ela (acreditem), não queria entregar. Eu facilitei muito a  vida dele.

Bem, mas ele não era um ladrão muito coerente. Fazer o que, né?

E aí eu disse:

- Eu só tenho umas moedinhas aqui.

Peguei a minha bolsinha de moedas que, por sinal, só tinha umas moedas de cinco centavos que não completavam nem cinquenta... Ele pegou, abriu e continuou perguntando pelo dinheiro.

- Umbora! Cadê o dinheiro de papel? (O que foi muito preconceituoso da parte dele porque, ora, quem disse que moeda não é dinheiro?).

Peguei minha carteira, entreguei pra ele, pedi pra ele olhar. Ele pegou, apoiou em cima da perna dele, folheou a carteira toda e não encontrou nada, mas ainda insistiu...

Abri mais ainda minha bolsa, ele mexeu lá dentro e também não encontrou nada...

Então eu disse: 

- Eu não tenho dinheiro. Pode levar minha bolsa.

E estendi a bolsa pra ele. O que ele não deve ter achado muito interessante porque minha bolsa não combinava nada com a roupa que ele tava usando, ou com a cor da bicicleta... que seja. Mas continuou com a história chata do dinheiro. Eu acho que ele era obsessivo compulsivo.

- Meu filho, essa sua obsessão com dinheiro já é uma coisa patológica. Vamo consultar um psiquiatra, fazer um tratamento, tomar uns "tarja preta"... Onde já se viu uma coisa dessas, gente?! Todo mundo quer dinheiro, meu filho. Mas a gente não pode ter tudo que a gente quer, pelo amor de Deus! Eu também quero tanta coisa!! Eu bem que queria ter um brilhante da Tiffany, mas eu não tenho! E eu fico atormentando as pessoas até a morte, pedindo um anel da Tiffany? NÃO!! EU NÃO FICO COISA NENHUMA!!

Mentira. Eu não disse isso. Mas eu bem que pensei.

Bom, o que aconteceu é que ele FINALMENTE, acreditou que eu não tinha mesmo dinheiro e se contentou com meu celular e minhas moedas de cinco centavos e foi embora, acreditem, sem levar meu colar de ouro, meu anel de ouro e meu relógio bacana!!! BURROOOOO!!! Dá zero pra ele!!!!

Tá vendo? É isso que dá ter a mente estreita e só pensar em dinheiro.... Dinheiro não é tudo na vida gente! Ainda tem os colares, os anéis e os relógios...

No final, ele não me mostrou arma nenhuma, não usou palavrões, não foi violento... Aí um monte de gente veio me perguntar:

- Menina, porque tu não correu?

- Menina, porque tu não deu uma bolsada nele?

- Menina, porque tu não gritou?

Gente, eu tenho amor à minha vida. E sou bem fraquinha, na verdade. Era só um celular. Mesmo que ele tivesse levado minha bolsa toda, aquilo tudo eu podia comprar de novo. E o que a gente faz de ruim pros outros sempre volta pra gente.

E não, não passou ninguém por perto durante toda essa negociação, embora seja um lugar até movimentado e eram só 7h da noite. Lei de Murphy...

E eu já tenho um celular novo, beleléu!!!


E agora é que eu não ando mesmo com dinheiro na bolsa! Já pensou eu ter que entregar meu dinheiro suado pra aquele protótipo de ladrão de meio de rua? Fala sério!!!