sexta-feira, 27 de junho de 2008

O fim... e o começo.






LUNA, ANDRÉ
E OUTROS AMORES
"Diário de uma louca apaixonada"




14 de Outubro de 2002.
Segunda-feira.
03:36 p.m

O primeiro. Gabriel foi o primeiro que as fez brotar de meus olhos. Fluíram como se eu chorasse por qualquer outra coisa que não fosse desilusão de amor.
Ai que dor eu sinto. É uma dor tão grande, imensa. E eu não esperava que isso viesse dele. Dele nunca! Mas foi ele. O primeiro. E espero que seja o último...


***


Escrever em diários fazia parte da vida de Luna. Ela escrevia neles o tempo todo. Nunca relatava os fatos do dia tal e qual como eles aconteciam. Se interessava em colocar mais os seus sentimentos e não o que havia comido no café-da-manhã. Essa era uma tarefa que deixaria seu diário aborrecidamente chato e, de coisas chatas, ela queria distância. E de tristeza também, por isso, ela só voltou a escrever naquele diário no dia...



16 de Fevereiro de 2003.
Segunda-feira.
04: 45 p.m

Querido diário... ah, hoje você é querido!
Faz um tempinho que não escrevo em você. Talvez por não me trazer boas lembranças mas... enfim! Eu não vou recordá-las agora e estragar este momento tão íntimo de nós dois.

O nome dele é André. Ele é tão foooooooofo! Finalmente nós trocamos uns beijos! Ufa! Fazia o quê? Um ano? Um ano exatamente! E se não fosse Mariela, isso nem teria acontecido. Ele é tão tímido... Eu já disse que ele é fofo? Ele é tão foooooooofo...
Ah! Vou ter que suspirar por ele outra hora. Mamãe está me gritando como se o mundo fosse acabar.


***



- Luna! Lunaaaaaaaaaaaaaaa!

- Mãe - disse Luna em uma voz baixa e calma - Olha que coisa interessante. A mãe da Mariela usa uma voz tranqüila e carinhosa quando fala com ela.

- A mãe da Mariela mora no interior, eu sou uma mãe absolutamente urbana e estressada.

- Que coincidentemente, nasceu na mesma cidade em que ela mora agora. Renegando suas raízes mamãe? Muito feio isso. Tsc, tsc, tsc...

- Luna, minhas raízes não estão em questão no momento. O fato é: você tem que pegar sua irmã na casa da Mel. E faz meia hora que você deveria ter saído. Eu não quero que as pessoas pensem que eu sou uma mãe irresponsável e deixo minha filha na casa de pessoas estranhas.

- Hummm... mãe. Então, já que você não quer parecer irresponsável... Não seria melhor você mesma ir lá buscar a sua filha? Eu não me importo nem um pouco de parecer uma irmã irresponsável. - E fez um gesto levantando as mãos.

- Isso você já é. - Falou isso mais por querer falar do que por ser verdade, o que ela bem sabia que não era. - E não mude de assunto. - Suavizando o tom de sua voz e piscando os olhos em um semblante doce - Vá buscar sua irmanzinha, sim querida?

- Ai... certo. Já que mamãe pediu com tanta delicadeza. - Ironizou.

- E não esqueça de passar na confeitaria e trazer um pedaço de bolo de chocolate! Tem dinheiro embaixo do vaso da vovó.

- Ah... ótimo! Babá e office-girl... E eu nem ganho pra isso! - Saiu resmungando.

- Falou alguma coisa Luna?

- Não! Nada, mãe! Já fui!


05: 25 p.m (Casa da Mel)

Dá pra acreditar em um negócio desses? Eu estou aqui, sentada na porta da casa da Mel, esperando minha irmã, porque ela e a amiguinha acharam de ir tomar sorvete justamente quando eu vim buscá-la.

A empregada disse que elas acabaram de sair com a mãe da Mel. Ela é uma mulher robusta, grande e fala como se estivesse brigando com a gente. A empregada, eu quero dizer, não a mãe da Mel. E tem bigode! Eu não sei como a probrezinha da Mel não tem pesadelos à noite. Porque crianças, geralmente, tem pesadelos por qualquer coisa. Eu mesma, quando era pequena, tive uns pesadelos com um garoto da segunda série que insistia em me perseguir pelo pátio do colégio me fazendo favores... Era terrível! Um cara como aquele deveria ser preso por tentativa de pedofilia. E o fato de ele também ser criança nem alivia esse ato criminoso porque, por favor, ele já estava na segunda série e eu ainda fazia a alfabetização! Alfabetização! Eu ainda estava aprendendo a ler quando ele já bem ficava correndo atrás de menininhas mais novas com aquelas pernas terrivelmente finas que ele tinha. Nossa... Me dá até arrepios.

Mas... de que eu estava falando mesmo?

Ah! Da empregada da casa da Mel, a amiguinha de escola da minha irmã de 4 anos. Ela até me convidou para entrar e esperar na sala de estar mas... sei lá, achei mais seguro esperar aqui fora mesmo.

Bem e, antes de ser interrompida por mamãe me pedindo carinhosamente para vir buscar a Lorna. É o nome da minha irmã. E é um nome Celta. E o meu é latim. É o nome de uma deusa romana da Lua. E é claro que que já escrevi isso aqui antes.

E eu estava falando de André.

Lembra, diário, quando eu escrevi que, no ano passado, naquela festa de carnaval que aconteceu nas ruas de Serra da Luz eu conheci o primo de um amigo meu? Quer dizer, na verdade eu já o conhecia. Ora, quem não se conhece naquela cidadezinha esquecida por Deus?

Bem, o fato é que, eu fiquei encantada com ele porque quando uns caras quiseram me chatear pegando no meu braço e me puxando como se eu estivesse ali para o desfrute deles - o que eu acho totalmente detestável e sempre acontece quando uma garota está visivelmente desacompanhada... ou acompanhada também, em alguns casos - e André, fez a delicadeza de ficar expulsando esses caras a noite toda e dizer a todos eles que eu era sua namorada. Só para, no fim da noite, eu acabar ao beijos com um amigo meu, pelo qual eu nutria uma paixãozinha mal resolvida e, bem, era melhor resolver aquilo de uma vez, não é mesmo?

E depois, André e eu nunca mais nos falamos e eu só o via de longe. Até que nós fizemos o vestibular para a mesma faculdade, lá em Serra da Luz. É! Imagine! Faculdade em Serra da Luz! É sinal de que nem tudo está perdido, afinal. Aquelas criaturas de mente pequena agora têm uma fonte de saber. É só esperar que elas aproveitem isso...

Mas, enfim! Eu ficava só olhando ele de longe, nos intervalos das aulas e ele também ficava de olho comprido pra cima de mim e eu... Ah! Eu completamente adorava aquilo. O problema é que ele não tinha coragem nenhuma de se aproximar.

Então eu resolvi tomar uma providência e pedi ao meu primo, que era amigo dele (porque, afinal, quem não é nessa cidade...) e insinuar que tinha uma prima linda e que... bem, ele poderia querer, sei lá, me dar uns beijos ou algo do tipo. E isso nem é de se estranhar, da parte do meu primo, porque ao contrário de Ravena, que é a prima preferida, ele não tem nenhum ciúme de mim. O que me deixa irritada às vezes, porque eu sou bem mais legal que ela.

Mas, pelo menos, essa falta de apego por mim, me serviu de alguma forma e, o André se mostrou absurdamente interessado. O que, ainda assim, não o fez tomar uma atitude imediatamente. Então eu tive que pedir ajuda de Mariela, que era bem mais próxima dele do que Augusto, meu primo e, marcou um encontro entre nós dois.

E... ai meu Deus! Eu estava tão nervosa! Francamente, parecia que eu nunca tinha beijado um garoto na vida! E, como eu era tímida (e ainda sou) e ele também (e continua sendo) nós dois meio que ficamos sem saber o que dizer e fazer, o que era tipo, óbvio, numa situação como aquela.

E a noite foi adorável... Ai, ai... (suspiro).

Bem mas, é claro, nós só trocamos uns beijos mesmo e falamos sobre coisas tolas e, o fato de que a lua estava linda naquele dia e a boca dele ser uma graça... não vão me fazer querer qualquer tipo de apego-amoroso-paixonístico com ele porque, ora, eu passei por isso alguns meses atrás com Gabriel e eu meio que não gostei. Tá, na verdade foi a maior dor-de-cotovelo de TODA a minha longa vida de 18 anos e eu quase morri de tanto sofrimento, o que não convém lembrar agora.

Por isso, eu decidi (e quando eu decido, está decidido, porque decisões são muito importantes na vida de uma mulher decidida, como eu) que não vou querer mais nada com André, apesar de ele ser muito fofo e ter um sorriso lindo e eu caber direitinho no abraço dele... Não. Não adianta. Eu não vou ficar com ele de novo. Para o bem do meu coração. Nem que ele me peça e tudo mais... Nem se ele falar baixinho assim o meu nome e chegar pertinho até eu sentir o calor dele e sentir o meu corpo se aproximando e o cheiro dele me deixando meio zonza. Nossa... eu já disse como ele cheira bem...?

Mas, não! Nada disso! Sinto muito André. O nosso tempo acabou.

E falando nisso... Oh! Acabaram de chegar. E... nossa! Mamãe vai ficar uma fera quando vir aquela mancha enorme de sorvete de chocolate bem no vestido da Lorna...

A gente se vê mais tarde.


***

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O Pacto.


Puta que pariu!!! Porra, ca-ra-lho!!! Essa tal de Jodi Picoult é simplesmente fo-dás-ti-ca!!! Cara, essa mulher escreve muuuuuuuuuito. Putz!! Quando eu crescer, quero ser igual a ela.

Esse livro que eu li: O Pacto, é... Porra! Muito bom demais da conta. As cenas são incrivelmente escritas. A crítica do The Raleigh News & Observer, tem razão. "As cenas do julgamento de Chris são particularmente memoráveis, mais emocionante que qualquer coisa de John Grisham." E é mesmo, embora eu nunca tenha lido nada de John Grisham, mas eu assisti o filme baseado em um livro dele, mesmo que os filmes não sejam tão bom quanto os livros. Mas eu gostei.

Gostei e acho até que ela superou Sidney Sheldon no quesito suspense e final inesperado. Ainda que os dois tenham estilos diferentes...

E de todos os autores que eu já li, tanto o Sidney e a Nora Roberts e até aquele cara lá que escreveu O Guardião de Memórias, como é mesmo o nome dele? É... Ah! Kim Edwards! Poxa, ela sabe mesmo como misturar o suspense da trama com o romance também e uma grande sensibilidade.

Eu acho incrível isso de uma só pessoa escrever discursos tão convincentes e de lados opostos, como no julgamento do Chris. Uma hora ela nos convence de que ele é inocente e na outra já acreditamos que ele seja culpado. É realmente impressionante!

Galera, leiam se tiverem oportunidade. É um ótimo livro. Até minha irmã, que não tem o hábito da leitura, leu as 397 páginas e adorou! Até chorou, pode? E olha que mais bruta que ela... só duas dela! rsrsrs

Leiam O Pacto, de Jodi Picoult. Vai valer a pena.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Mais um dia...


Hoje vou contar sobre o meu dia. Começando de ontem. Quer dizer... não que hoje tenha começado ontem, mas é que... Ah! vocês entenderam!

Ontem me disseram que eu estava linda e me fizeram um pedido de desculpa ao mesmo tempo. Bem, vou explicar melhor. Uma pessoa que eu já conheço há oito anos e que, nunca me disse que eu estava linda alguma vez (a não ser que eu tenha perguntado) e nunca, nunca, em tempo algum, me pediu desculpa por nada que tenha feito (mesmo sabendo que estava terrivelmente errado) colocou essas duas coisas numa mesma frase. Não que estivesse me pedindo desculpa por eu estar linda... me pedia desculpa por outra coisa, que nem era tão grave assim, mas eu achei um amor e gostei ainda mais dele. E, com certeza, só por causa disso, devem estar se formando gotas de gelo no inferno, bem agora.

Acho tão lindo essas coisas inesperadas! Principalmente vindo de uma pessoa que é especialista em me tirar do sério e me irritar o tempo todo. Por ser bruto e meio ignorante. Ai, não quero nem pensar, que só de fazer isso já me dá nos nervos.

Mesmo assim, achei adorável...

E hoje, eu tive que ir pagar meus pecados no Banco do Brasil. Se vocês não sabem, a filial do inferno fica em Teresina e tem central de ar-condicionado. Acreditem! Você paga por tudo de mau que fez em cima da terra, lá dentro daquele banco do capeta.

Pra começar, aquela marmota estava de greve. Então, os serviços que já demoram uma eternidade para serem feitos, hoje, estavam demorando DUAS eternidades. O banco só abriu ao meio dia, para fechar as portas às duas da tarde.

Eu tive a feliz idéia de levar um livro e me distraí enquanto esperava na fila. É impressionante o fato de as pessoas escolherem passar justamente no seu lugar da fila, assim que você abre o livro. Putz! Tanto lugar pra aquele povo passar e eu tive que ficar abrindo e fechando o livro porque, tipo, pra que elas vão facilitar a minha vida, se elas podem me atormentar até a alma? Então eu descobri que, fila de banco em greve não é lugar para ler. Não aqui neste país do terceiro mundo chamado Brasil.

Até que nos deixaram entrar na droga do banco. A fila lá em cima não estava tão grande e eu fui a terceira a ser atendida. Quem me atendeu foi o Otílio.

Olhei para o crachá de Otílio e ele ainda tinha cabelos na foto. Pelo menos na parte da frente. O que quer dizer que ele já estava naquela função há muitos anos e, isso explica o fato de ele não ter noção das coisas e ficar discutindo com o colega do lado, a greve detestável que eles estavam fazendo. Dizendo inclusive, que os cliente não estavam reclamando e eles poderiam (os funcionários, eu quero dizer) levar aquela greve mais a sério.

- Sinceramente. Esse tal de Sávio Rodrigues que se diz Relações Públicas desse banco deveria ser demitido, se vocês ficam tendo esse tipo de conversa na frente dos cilentes!

Eu não disse isso. Eu só pensei. Mas bem que deveria ter dito...

O que demorou mesmo foi o meu pai chegar pra me buscar. E ainda desligou os DOIS celulares. Eu tinha dois meios de me comunicar com ele e não consegui nenhum. Então qual é o sentido desses telefones, pelo amor de Deus?! Eu já disse alguma vez que destesto quando as pessoas não atendem o celular? Ah, sim... eu já disse.

Eu estava justamente fazendo um favor pro meu pai, porque eu faço esse serviço de office-girl, às vezes. E não ganho nada com isso. Na verdade, essa relação dinheiro-papai-e-eu nunca foi assim, digamos, satisfatória. Pelo menos pra mim.

Eu tinha amigas que viviam num mundo surreal em que seus pais lhes davam dinheiro a cada nota 10 que elas tiravam nas provas. O meu nunca nem dizia nada e, quando fazia isso: "Não fez mais que a sua obrigação."

Papai nunca me dava dinheiro de livre e espontânea vontade e, quando eu pedia, ele sempre me perguntava pra que era. Talvez pra evitar que eu comprasse drogas ou coisa do tipo. Mas, mesmo que eu quisesse pra comprar drogas - o que não era o caso - eu poderia simplesmente dizer que ia comprar um livro e ele me daria do mesmo jeito. Papai... precisa ser mais esperto.

E hoje é o meu primeiro dia de férias, mas não totalmente, porque eu só estou de férias no meio da semana já que no sábado eu vou continuar a dar aula do mesmo jeito. Enfim... Nada é perfeito.

Vou ficar um mês inteiro sem ver Maria Theresa e ouvir ela dizer que tem mais namorados do que eu. E, só pra constar... Maria Theresa tem só 7 anos.

Bem, então é isso!!

Até a próxima!

domingo, 22 de junho de 2008

Luna e André...


A partir de hoje eu vou colocar aqui uma série. Ela vai falar de Luna, uma garota meio maluquinha que é apaixonada por diários e coloca a vida dela em todos eles, além do que não tem coragem de falar para as pessoas, como uma forma de desabafar e não ceder ao desejo de pular no pescoço de alguém, seja para esganar ou dar um beijo estalado. Algumas pessoas não reagem muito bem quando são esganadas... ou beijadas, é o que ela pensa.

Desde os 11 anos, eles acompanham Luna como amigos que estão sempre lá e, ela se sente segura com isso.

Mas, aqui, eu só vou mostrar um pedaço da vida dela. O momento em que ela conhece André, o cara machista e de mente estreita que a persegue durante 4 anos. Mentira. É ela que persegue o André, por achar que ele está apaixonado por ela e não sabe como dizer e demonstrar. E ela só precisa de um pouco de paciência pra conseguir fazer ele enxergar isso, é o que ela pensa também.

E quando ela jura que o esqueceu e que não o quer mais na vida dela, sempre aparece alguém pra ocupar seu coração. Mas, quando essa pessoa vai embora, André sempre volta... com força total! E a deixa desesperada com isso.

Luna é uma garota sonhadora e romântica e alegre, acima de tudo. Tem as amigas Mariela e Sandra como suas confidentes, além dos diários. Ela gosta da vida e dos amigos ao seu redor. Começou várias faculdades antes de se concentrar no jornalismo. (Eu sei que isso tá parecendo muito comigo, essa parte do jornalismo, eu quero dizer. Mas, poxa, eu não tenho tempo de fazer pesquisa e já tenho experiência nessa parte. Vamos ser práticos então.)

E eu não vou mais falar nada porque senão perde a graça. Vejam a vida de Luna por vocês mesmos...





LUNA, ANDRÉ
E OUTROS AMORES
"Diário de uma louca apaixonada"




Luna não pensou duas vezes. Rasgou a primeira, a segunda, duas de uma vez. E as folhas do diário foram se despetalando como uma flor.

Era capaz de gestos impulsivos, às vezes. Queria chocá-lo, queria magoá-lo, queria bater nele, ferir. E como não podia - nem seria capaz, se pudesse - arrancava página por página daquele diário que a acompanhara durante aqueles meses de solidão suspirativa e frustração absurdamente contida no peito, fazendo-a sofrer.

Ele olhava e sorria, talvez achando engraçado mesmo, aquele ato de loucura repentina, talvez tentando camuflar um pouco de preocupação ou querendo se convencer de que não tinha magoado aquela garota afinal.

Não. Não tinha. Ela era engraçada, às vezes. Já devia ter se acostumado com as maluquices dela. Rasgar o diário daquele jeito só porque ele a fizera pensar que havia espiado as palavras escritas na primeira página. Quanta tolice!

Ele pediu para ela abrir o pequeno cadeado que o trancava, isso ele havia pedido. Mas nunca achou que ela faria isso, pelo amor de Deus! E depois, seria engraçado ele tirar o diário das mãos dela de surpresa. Só nunca pensou que ela sairia correndo atrás dele, descalça, na rua deserta.




Os pés de Luna ainda ardiam. Não era para menos, se ela lembrasse que que tinha acabado de sair correndo, deixando as sandálias no terraço da casa da tia, para queimar os pés delicados no asfalto flamejante. Bem no horário em que o sol tinha preferência por castigar todo e qualquer ser vivo que fosse corajoso o bastante para se colocar sob seus raios.

Os pés queimavam, o coração doía, os olhos ardiam de secura e ela não deixaria uma única lágrima cair antes que ele estivesse longe o suficiente.

Quando ele partiu, os olhos de Luna foram inundados de repente, com uma força que ela não esperava, com todas as lágrimas que ela nunca conseguira derramar em situações como aquela e estava surpresa com tamanha intensidade. Surpresa e terrivelmente amedrontada. Mas, além do medo e da tristeza ela tinha uma certeza. Ele saira dali sabendo de uma coisa. Não importa o que aconteça. Nunca mexa no diário de uma garota.

domingo, 15 de junho de 2008

Final Feliz.


Então eu desmaiei por causa da pancada na cabeça, né? Quando eu acordei, estava meio confusa, sem saber em que lugar estava. Eu só sabia que não era o mesmo lugar onde eu tinha caído.

Tentei me levantar e sair, mas ainda me sentia meio tonta e a cabeça ainda doía. E depois de piscar algumas vezes para firmar a visão, me dei conta de que estava em uma caverna escura e fria.

A caverna era bastante grande. Eu não tenho muita noção de tamanho das coisas, mas ela deveria ter uns 200m. Me perguntei como foi que eu acabei parando ali. E fiquei com medo da resposta...

Lá na frente eu enxerguei uma luz e, antes que se formasse na minha cabeça o pensamento de ir para fora, um tigre siberiano apareceu na entrada. Eu fiquei paralizada de terror. "Ai, meu Deus. É o meu fim", pensei. "Tão jovem e com uma vida pela frente... Eu nem cheguei a ir pra Jamaica. Isso seria muito injusto! Eu sequer tive tempo de ser uma escritora famosa ou provar comida marroquina (acho tão chique, comida marroquina) ou fazer compras na quinta avenida em Nova York, como a Beck Bloom!!! E agora eu serei estraçalhada pelos dentes afiados daquele felino..." Aliás, eu disse que em seu pescoço tinha uma colera com o nome do "bichano"? Não disse? Pois é. No pescoço dele havia uma coleira com o simpático nome de "ESTRALHAÇADOR". Lindo, não é mesmo?

Quando o sangue voltou a circular pelo meu corpo, depois de dez segundos parado nas minhas veias, meu primeiro ato foi dar um passo para trás, pensando freneticamente, como eu conseguiria escapar daquele bicho naquilo que parecia ser um beco sem saída, quando uma mão grande e firme me tocou nos ombros eu eu ouvi uma voz grave e forte reverberando por aquelas paredes de pedra:

- Para onde você pensa que vai?

E no segundo seguinte a única coisa que se ouvia ali, era o meu grito desesperado.

- Aaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!

- Ei! Você comprou ouvido de alguém aqui?!

E eu parei, de repente, surpresa com aquilo.

- Não se diz "comprar ouvido" e sim, "alugar ouvido". - Eu expliquei.

- Sim, dá na mesma. Alugou ouvido de alguém aqui?

- Não!- Eu falei, confusa - Mas alguém tem o direito de gritar quando está a ponto de morrer devorada por um tigre, pelo amor de Deus!

- O quê?! Comer você?! Estralhaçador não faria isso. Ele ser vegetariano.

- Anh?! - Foi o único som que pôde sair da minha boca, então. E depois do susto...

- Vegetariano?! Tá querendo me dizer que aquela coisa cheia de dentes é vegetariano? Foi a pancada - comecei a falar mais comigo mesma do que com qualquer que fosse a alucinação que estivesse ali, ao meu lado - Foi a pancada na cabeça que ainda está me causando problemas... Quem sabe eu ainda nem acordei e estou sonhando. É! É isso! Tem sonho que a gente sonha e sabe está sonhando, porque é um sonho...

- Menina, você não falar nada com nada.

- "Coisa com coisa"! Eu não falo "coisa com coisa"!!

- Ainda bem que você saber... Menina maluca... - E sacudiu a cabeça para ambos os lados num movimento de negação.

Enquanto isso, o belo tigre se aproximou e se deitou delicadamente diante de nós e começou a lamber uma de suas patas gordas. Nossa... Era até bonito de ser ver, um bicho daqueles. E eu nem sou muito de gostar de bichos, sabe? Muito menos de gatos. E se um dia eu fosse ter algum animal de estimação, seria tartaruga ou peixe. Desses eu gosto. Não deixam pêlos pela casa. Muito mais práticos também, já que...

- Ei! Olá!

- Ah! - Me virei de repente e vi que aquele cara de sotaque esquisito também ainda estava lá e que não era alucinação coisa nenhuma. - Me diz. Como eu vim parar aqui?

- Vi menina caindo na pedra. Bateu a cabeça. Trouxe menina pra caverna.

Então eu me sentei e comecei a perceber as coisas ao meu redor. A caverna parecia uma casa. Tinha mobília e tudo. Quer dizer... Se é que aquilo podia ser chamado assim. Era tudo bem rústico, mas organizado e limpinho.

E com as gotas do espírito jornalístico que ainda sobreviviam num fundo escondido da minha alma, eu despejei todas as perguntas que eu conseguisse, no menor espaço de tempo possível.

Descobri que o cara era Irlandês e fugiu do seu país pelo mal estar que seu nome causava quando as pessoas os descobriram. Também não era pra menos... O nome do cara era, pasmem, Hitler. Hitler!! Dá pra acreditar?

Então no mesmo instante, fui tomada de uma grande afeição por ele.

- Eu entendo. Também tenho nome esquisito... - Falei baixinho.

E comecei a prestar atenção no rosto dele. Era tão bonito. Os cabelos meio desalinhados e rebeldes e uns óculos de aros finos e redondos. Um charme. (Viu, Jo-na-thas. Eu não tenho medo de me envolver coisa nenhuma! Tem envolvimento o bastante pra você, aqui?)

Ele veio em um dos Festivais de Inverno, achou a cidade bonita, as pessoas legais, calorosas e resolveu ficar. Durante um passeio pelos arredores, ele encontrou a caverna. Tinha um ótimo senso de direção, coisa que eu admirei incontroladamente porque... ora por, óbviamente, eu não ter nenhum e, por isso, ter me perdido. Ele achou a caverna sozinho e voltou sozinho para a cidade e de novo para a caverna, sempre que preciso, até que colocou tudo que precisava lá dentro.

E o tigre? O tigre, ele soltou de um circo que estava na cidade. Ele se apaixonou pelo bicho e vice-versa e sorrateiramente, durante a noite, soltou o gatinho de lá e o levou para morar com ele. Todo mundo ficou se perguntando como aquele monte de pêlo, daquele tamanho, sumiu num passe de mágica e ninguém achou nem rastro dele.

Hitler não andava muito na cidade. Não queria que soubessem da existência dele. Tudo o que necessitava, ele ia buscar nas cidades vizinhas e usava um nome falso quando era questionado sobre o mesmo. Pra, meio que facilitar as coisas...

Ele não queria ser descoberto. Não queria mesmo. E estava conseguindo isso muito bem, desde então. E quando ele terminou de falar, eu estava totalmente encantada. Ai, ai...

Não demorou muito para descobrirmos que estávamos perdidamente apaixonados um pelo outro. Então decidimos fugir para a Nova Zelândia. Hitler mudou o nome dele para Kamal, um nome árabe que significa "o perfeito" (eu mesma que escolhi...).

Então, nós tivemos os gêmeos Dimitri e Demétrio e ganhamos muito dinheiro exportando bolsas manufaturadas pelas bordadeiras aborígenes do Nepal, com o rosto de Bob Marley.

Aí vocês perguntam... Bordadeiras aborígenes? Do Nepal? Rosto de Bob Marley? Eu sei... é uma mistura muito louca. Mas eu só tenho uma palavra pra vocês: GLOBALIZAÇÃO.

E nós vivemos felizes para sempre...

P.s: Eu também mudei o nome do tigre para "Miau". Ora! Os gêmeos não iam conseguir pronunciar ESTRALHAÇADOR, antes dos 7 anos de idade, o que seria muito triste, partindo do fato de que era o animalzinho de estimação deles. Combina mais com ele, não acham?

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Tudo no seu lugar...

Pois é... Passei um tempo com um bloqueio criativo dos infernos por causa do diabo de uma TPM. Mas, enfim, é uma dessas coisas que dá e passa. Graças a Deus.

Então eu tentei escrever um monte de coisas, mas nada ficava bom o bastante para alguém que estava enlouquecida com todos os incômodos que essa espera trás para nós, mulheres.

O que eu estava precisando mesmo era de um romance bem mamão-com-açúcar, desses que faz a gente dar suspiros involuntários a cada cinco minutos e, claro, isso se agrava mais se você é menina, canceriana e, ainda escreve em diários.

Eu estava passando, por acaso, em frente à casa de uma amiga minha e o que é que ela tinha lá? O quê? O quê? Uma pilha deles! Ai... Eu senti que o sangue quase voltou a circular pelo meu cérebro... Sensação maravilhosa.

Ela estava de saída para o cabeleireiro e me pediu que fosse com ela e, eu aproveitei pra cortar o meu também e tentar dar um jeito na arte pós-moderna que a Cineide fez na minha cabeça, na última Semana Santa.

Ficou tão lindo!!! Voltei a ter os meus cabelos de volta!!! Olhem só!

Antes: meus cabelos sufocados pelas amarras impiedosas dos elásticos de cabelo e TODAS as presilhas que eu conseguisse colocar.




Depois: livres e soltos ao vento, desfrutando de toda a liberdade que cachos lindos como estes têm o direito de ter.

Ficou realmente ótimo. Nem lembro quando foi a última vez que tive meus cabelos assim... Talvez deva fazer uns quatro anos. Bem antes de eu dar uma de louca e picotar todos esses cachos aí, bem curtinhos.

Mas a gente tem que fazer essas locuras de vez em quando. Afinal, eu tenho que aproveitar que minha mãe deixou eu decidir como cortar o meu cabelo, logo depois que eu fiz 15 anos!

Gente! 15 anos sob a ditadura-da-mamãe-só-apare-as-pontas-dos-seus-cabelos!! E olha que, cabelo é o que não me falta.

Agora, concentração e respiração... Mentalizem bem a imagem de uma criança magra (eu era ainda mais magra do que sou agora, podem acreditar, isso é inaceitavelmente possível) e enooooooooormes quantidades de cabelo chegando até a sua cintura, sugando todas as suas energias extras, que ela podia muito bem gastar, andando um pouco mais de bicicleta. Acho que agora eu entendo o porquê de eu ter que tomar todo aquele sulfato ferroso... Anemia que nada!!! Era o cabelo!!! A culpa era do cabelo!!!

Então, passando essa fase cabeluda da minha vida, tem os romances. Eles me ajudaram bastante nesses dias de introspecção e sonolência suspirativa.

Cada história linda... Eu sei, pessoas. São romances. Fantasias. Aquilo tudo é de mentira e a mesma história se repete a cada livro. Mas lembrando de novo, novamente, mais uma vez... tem aquele fato de eu ser menina e canceriana... lembram? Pois é.

Eu li um atrás do outro, sem me importar em fazer mais nada na vida e nem com o fato de que mamãe tem uma verdadeira adoração por esses momentos em que eu me isolo no quarto pra ler alguma coisa. É que ela sente minha falta, sabe? É. Mesmo que eu não tenha nada pra dizer, nem ela, o seu desejo é que eu fique sob a vista dela, pra ela sentir a minha existência ali, na sua frente. Não importa se eu tenho outra coisa pra fazer. Não. Porque ela se importaria?

É claro que ela não se aborrece mais, porque eu não tenho que estudar pro vestibular (coisa que eu deixava de fazer pra ler o que não ia cair na prova, inexplicavente, BEM mais agradável do que a história de Napoleão) e nem ela, tem que esconder meus livros e mentir, desavergonhadamente, dizendo que queimou todos eles, numa espécie de revival das fogueiras da Santa Inquisição.

Agora que não tem mais vestibular para atrapalhar a minha leitura... eu sei o quanto mamãe me ama. Porque mamãe me ama mesmo. Eu sinto isso toda vez que eu estou tranqüila e serena, deitada na minha cama, me deleitando com as palavras de algum dos meus livros e ela "carinhosamente" me diz:

- Lanussa!!! Tu tá lendo nessa posição, Lanussa?! Com essa luz, Lanussa?! Olha a tua vista!!! Tá vendo que tu não tá enxergando nada aí!!! (e prestem só atenção na contradição da frase...). Te levanta!!! Vai ler ali fora!!!

E eu, aperfeiçoando uma técnica milenar de bloquear a presença de outras pessoas do recinto em que me encontro (eu mesma elaborei essa técnica, hehehe), finjo que mamãe não está ali e continuo lendo. Então ela cansa e vai embora. Isso funciona. Durante alguns minutos.

Aí, no dia seguinte, ela volta, no mesmo Bat-horário, no mesmo Bat-local, abre a porta do quarto, coloca só a cabeça na porta e fica me olhando. Ela olha, olha, olha, olha... Eu sinto que ela precisa disso. De só sentir um pouco da minha presença. Eu não sei porque mamãe faz isso. Eu sei que ela sabe que eu não tolero... Ah! Descobri então porquê. Mães sempre fazem o que a gente não gosta, pelo simples prazer de dizer: "Eu tenho a força."

Fora esse negócio dos romances, eu trabalhei durante a semana e, hoje, sábado de sol, com um céu azul desses, eu vou dar aula de Inglês, de uma até cinco da tarde, numa sala, quatro paredes sufocantes, crianças barulhentas e adolescentes com o ego de um elefante.

Eu sei, eu sei... É um absurdo! Mas é parte daquele negócio de ir pro céu, depois.

É isso aí!